O reinado de D. Afonso Henriques é, por assim dizer, uma peça inteiriça: todo ele, de ponta a ponta, é um sistema de esforços conjugados, e superiormente dirigidos, para a independência do Condado de Portugal. Sem a Batalha de São Mamede, em 24 de Junho de 1128, a história de Portugal não podia existir: ela foi o seu berço. Ali nasceu Portugal há 896 anos.
A Batalha de São Mamede é o primeiro acto decisivo, claro, que não admite dúvidas, da série gloriosa de feitos do fundador do Reino de Portugal. É o nosso grito de independência, é a nossa primeira afirmação de personalidade e de vontade. Vitorioso da hoste estrangeira, Afonso Henriques ergue voo, nas suas legítimas aspirações, e sonha o talhar de fronteiras que é o seu longo reinado.
Batalha de São Mamede: ali nasceu Portugal
Génio político e militar formidável, Afonso Henriques é o obreiro máximo da nossa existência como Nação. E foi na Batalha de São Mamede que o plano grandioso se fixou, se concretizou e definiu.
Tudo quanto veio depois, a obra inolvidável das dinastias que se seguiram, saiu do combate dos campos de São Mamede, em que D. Afonso Henriques passando sobre os seus sentimentos de filho, defrontou a vontade da Mãe, subjugada à influência do estrangeiro. Perdoa-se a D. Teresa essa fraqueza sentimental de uma paixão serôdia — recordando-se que também ela cooperara, ainda em vida do marido, para que as condições do condado portucalense tornassem possível o gesto audacioso de Afonso Henriques, em 1128.
Volvidos 896 anos sobre essa data fascinante, a Nação persiste. Foi a continuidade da Realeza que garantiu essa persistência. É nosso dever, e um dever sagrado, recordar a Batalha de São Mamede, e a figura prestigiosa do Rei que a venceu. Há 896 anos nasceu Portugal. Foi em 1128 que se ergueu o Sol magnífico. Como Portugueses, não podemos, nesta hora de “apagada e vil tristeza”, calar o grito sagrado: — Viva Portugal!