Para não haver confusões, muito em voga hoje em dia, o artigo Ainda as mulheres na “tropa”! começa por definir “mulher”: mulher (do latim “mulier”) é um ser adulto do género (ou sexo) feminino. “Adulto”, entre nós, por ter passado os 18 anos de idade; “género feminino”, por caracterizar uma fisiologia (e emocionalidade) própria, onde se destaca o aparelho reprodutor (em contraponto a “masculino”).(1)

Em resposta a uma congressista americana que lhe perguntou porque não concordava com mulheres a combater, o Comandante dos Marines respondeu: “A guerra é um negócio de partir coisas e matar pessoas. E ambos sabemos que as mulheres não são muito boas a fazer isso”. A audição acabou ali. Mas voltaram à carga…

No pretérito artigo intitulado “O ‘nosso’ presidente estará bem?”, que tinha sido uma má ideia ter-se decidido a incorporação em larga escala, de mulheres na vida militar. A Força Aérea foi pioneira neste disparate — farão o favor de permitir que assim pense.(2)

Tal deveu-se a pressões políticas, dificuldades no recrutamento (sobretudo praças) e pouca reflexão sobre questões importantes — tendo em conta que o então chefe do Estado-Maior da Força Aérea, sendo conhecido na gíria como “um gajo porreiro”, era pouco dado à leitura de “dossiers” sobre assuntos complexos.

Essa terá sido também, uma das razões (além da “distracção”) pelas quais os pára-quedistas tão levianamente transitaram para o Exército.

Mas vamos deixar estes “pormenores” para nos dedicarmos à questão de fundo e à desmistificação da importância ou necessidade, de mulheres poderem (muito menos deverem) prestar serviço militar.

E o facto das mulheres terem sido admitidas nas Forças Armadas da maioria dos países do mundo, tal não quer dizer que não seja um erro que pode, aliás, ser revertido a qualquer momento.

Não é, tão pouco, fruto de um determinismo científico (que também é susceptível de erros) mas, tão só, de um modismo sociológico.

Aliás inspirado por gente, ideologias ou interesses, que pretendem subverter as instituições sociais, nomeadamente as militares, ou em militância feminista, mais interessada em atacar os homens e o “ambiente masculino”, do que em promover a valorização ou a dignificação da mulher. Já agora — convém lembrar — até hoje não houve entidade, grupo ou individualidade que mais tenha feito pela dignidade feminina, do que o Cristianismo…

Seria até curioso saber quantas destas “lutadoras” alguma vez se ofereceram para prestar serviço militar…

Ora a incorporação das mulheres nos exércitos nada acrescenta à operacionalidade das Forças Armadas, aumenta os desafios (e despesa) logística e levanta constrangimentos sérios na gestão de pessoal.

Tem ainda um efeito negligenciável na igualdade e liberdade de opções cívicas, profissionais e sociais nessa parte da população e representa, no seu cômputo geral e final, um verdadeiro retrocesso civilizacional!

E se já é mau ter mulheres em especialidades de apoio ao combate, permitir o seu ingresso nas funções directamente ligadas com o mesmo, é um desastre ainda maior, que irá ser pago em operações reais, com sangue, suor e lágrimas. O ridículo da coisa chegou quando se permitiu que as mulheres pudessem aceder às unidades de infantaria!

Como dizia a antiga primeiro-ministro britânica Margaret Tatcher “As mulheres dispõem de inúmeras tarefas em que podem servir com destaque. Algumas de nós até dirigimos Nações. Mas, em geral, somos melhores lidando com carteiras do que com baionetas”.

É certo que a evolução tecnológica tem suavizado os rigores da vida militar (mas não a letalidade), mas tal nem sequer evita que os “standards” e as exigências não continuem a baixar para se poder “acomodar” um maior número de mulheres. Dou apenas um exemplo: quando se verificou que as mulheres não eram capazes de lançar granadas de mão à distância desejável (até para nem serem atingidas pela sua explosão), a solução foi deixar essa tarefa para os homens, em fabricar granadas mais leves (logo menos letais).

E todos sabemos que qualquer tipo de “igualdade” acaba quando chega a hora de mudar a roda de um pneu furado…

As estatísticas demonstram também que as mulheres sofrem o dobro das lesões do que os homens, no conjunto das actividades que envolvem esforço físico.

E dezenas de outros exemplos podem ser apontados.

A única especialidade em que as mulheres trazem alguma mais-valia à vida militar é no serviço de saúde, já que têm um jeito natural para a prestação dos respectivos cuidados e ser um bálsamo para um ferido em combate receber assistência de mãos femininas. Daí uma das razões do sucesso enorme da experiência, durante a última campanha ultramarina, das enfermeiras pára-quedistas (que foi pontual; tinham uma formação exigente e estavam bem enquadradas e disciplinadas).

Mesmo assim a sua extensão a todos os escalões e funções tem de ser ponderada já que por exemplo, não parece nada adequado ter uma mulher socorrista a nível de um pelotão de uma unidade do exército em operações…

Mas a questão mais importante é a psicológica que pode afectar o moral.

Ainda as mulheres na “tropa”!

Um exército é uma máquina coesa, que vive muito do espírito de corpo e da camaradagem. Isto tem muito a ver com a “vida de quartel” e viver na mesma camarata (de onde vem o termo “camarada” — aquele que dorme debaixo do mesmo tecto), e de se passar por todas as práticas comuns.

Ora, ainda não se chegou ao ponto de se pôr tudo a dormir indiscriminadamente debaixo do mesmo tecto — por razões que julgo não ter de explicitar — nem tão pouco os exercícios afectam homens e mulheres do mesmo modo.

Por falar em dormir debaixo do mesmo tecto, escusado será dizer que a “disciplina sexual” tem de ser mantida o que não é de todo fácil conseguir. Por alguma razão não se guardam as munições e as espoletas no mesmo paiol…(3)

Mas a questão que entendemos por mais crítica, será a de ver mulheres ficarem feridas e mortas em operações ou numa outra qualquer situação em que estas possam ser maltratadas.

Tudo isto põe em causa o velho princípio de que “a mulher cria a vida e o homem protege ambas”. E aqui voltamos ao retrocesso civilizacional: num mundo em que se enche a boca com a palavra “paz” — embora raramente ela exista, até porque tem que começar no coração de todos nós — ainda se quer alargar a violência organizada a uma parte maioritária da população, que dela estava isenta. Não de sofrer as suas consequências, mas de as exercer.

E se querem assim tanto defender a Pátria (presumo que seja essa a primeira motivação que leve as jovens a irem para os exércitos), não faltam oportunidades para o fazerem como antigamente fizeram: educarem os filhos à maneira de Filipa de Vilhena e Mariana de Lencastre; socorrendo os feridos e alimentando os defensores das cidades cercadas (como no grande cerco de Lisboa, em 1384); municiando as espingardas e lutando ao lado dos homens, como nos cercos de Diu ou, até, impedindo que os homens se rendessem, como na defesa de Santo Aleixo da Restauração!

E, no fundo, quando há guerra são as mulheres que aguentam verdadeiramente a retaguarda.

Por mais que, “adiantados ou adiantadas mentais”, venham constantemente defender ideias abstrusas, nem sempre as mesmas são respeitáveis, adequadas e, enfim, naturais.

Lançar mulheres, consciente e organizadamente, num campo de batalha, não parece ser nada natural à natureza humana ou à consciência ética e moral.

Poder-se-á perguntar porque é que sendo tão errado e escusado, incorporar mulheres como militares, as chefias militares da época de transição e até posteriormente, não se opuseram ou levantaram todas as questões pertinentes.

Bom, um pouco por todo o mundo, houve oposição, nomeadamente nos Estados Unidos da América, na Grã-Bretanha e noutros países onde a Instituição Militar é levada mais a sério.

De facto só por cá é que não houve…

Digamos que a questão é fundamentalmente social, logo política, e isso tem sido determinante. Ora nos sistemas políticos facilmente se removem as chefias militares que se opõem aos desígnios dos políticos, em lugares de mando e, não raro, aparecem oficiais que só para garantirem uma promoção ou um lugar, não hesitam em passar a ser mais papistas que o Papa.

Depois existe o dever de obediência (que nada tem a ver com a submissão) e lealdade que deve ser escorada no carácter e no profissionalismo; e a ideia inculcada aos militares do dever e do cumprimento da missão, que leva muitas vezes a tentar pôr a funcionar ideias ou estruturas que não têm a mínima consistência.

Agora que a coisa está em velocidade de cruzeiro, ou já estão “doutrinados” ou entendem que não vale a pena ir contra o status quo.

Mas não param de aparecer os que gostam do politicamente correcto e logo escolhem várias mulheres para “ornamentar” os seus gabinetes. Aliás, o mesmo se passa com os actuais ministros da Defesa e Presidência da República (até a coisa dar para o torto, havendo sempre, porém, um lugar lá no estrangeiro longínquo para salvar a situação…).

Manter as mulheres fora da vida militar, não deve pois ser encarado como discriminatório ou cerceador de liberdades e direitos, mas sim um facto natural da vida, apoiado na justa medida das coisas, e no bom senso, ditado por uma experiência não de séculos, mas de milénios.

O padre António Vieira pôs Santo António a pregar aos peixes. Mas ainda hoje os seus sermões são lembrados.

Brandão Ferreira
Tenente-Coronel Piloto Aviador (Ref.)

________________
(1) Ou ainda um pouco mais completo, “substantivo feminino; ser humano do sexo feminino, dotado de inteligência e linguagem articulada, bípede, bímano, classificado como mamífero, da família dos primatas, com a característica da posição erecta e de considerável dimensão e peso do crânio”. Podendo, acrescentamos nós, ovular entre a menarca e a menopausa.
(2) Em 1998 entraram as duas primeiras cadetes para a Academia da Força Aérea; o primeiro curso de praças teve início em 11 de Novembro de 1991 (46); o de oficiais contratados e sargentos, em 24 de Fevereiro do ano seguinte (11 e uma, respectivamente).
(3) E quanto a relações homossexuais, as mesmas estavam prevenidas pelo saudoso dever nº 16, do artigo 4 do Regulamento de Disciplina Militar, deixado cair, salvo erro, na revisão de 1977.

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