Lembro-me de, ainda criança, assistir no Porto à procissão do Corpus a descer a Rua de Santo António (agora 31 de Janeiro). Os portuenses acorriam em massa e enchiam ruas e praças, e esta era a grande procissão centenária da Invicta. Espectáculo de Fé e militância religiosa, de tal forma imponente e esmagador, que nunca mais esqueci.

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/procissao-do-corpo-de-deus-no-porto/. Recordo-me em especial dos “anjinhos” e dos meninos e meninas da Primeira Comunhão e Comunhão Solene.

Passados anos, ocorreu a revolução dos cravos, de carácter marxista, e o então Bispo do Porto, decidiu “por razões de segurança” que a procissão não saísse à rua.

Quando o ambiente político acalmou, foi decidido retomar esta tradição de Fé. Mas nunca mais a procissão se revestiu do esplendor de outrora: o trajecto foi encurtado, a população não acorre a ver a procissão passar, as colchas nas janelas praticamente desapareceram e nem anjinhos nem meninos de Comunhão. Apesar deste infeliz resultado, ouvi o bispo posterior, D. Armindo Lopes Coelho, ao encerrar a procissão em inícios do presente século, que o anterior cancelamento desta manifestação tinha sido uma “decisão acertada”.

Com isto, passemos aos nossos dias.

Acaba de ser cancelada a grande peregrinação do 13 de Maio à Cova da Iria. Num contexto diferente, onde se substitui a ameaça marxista pela ameaça de um vírus altamente contagioso, embora este também “marxista”, pois que originário da China comunista.

O tipo de reacção do alto clero português repetiu-se. Cancelamento da peregrinação, precedido do cancelamento de toda e qualquer celebração comunitária, incluindo administração dos sacramentos.

Parece-me completamente errado perante Deus. E, perante os homens, é uma manifesta demonstração de medo.

Ora, é precisamente nas situações difíceis que o povo mais precisa de recorrer às manifestações de fé, sejam estas procissões, peregrinações, ou a celebração de Missas.

E assim se fazia antigamente. No tremendo terramoto de 1755, por exemplo, os sacerdotes percorriam os escombros a administrar sacramentos. Pelo país fora, faziam-se procissões a implorar chuva ou o fim de uma peste.

Mas agora, em Portugal, acontece o contrário. Ao mínimo sinal de risco, manda-se as pessoas ficar em casa.

É triste comparar a militância do PCP com a actual não militância da Igreja Católica.

A celebração do 1º de Maio de 2020 foi um bofetão na cara do povo católico. Houve então uma esperança de que afinal se pudesse peregrinar a Fátima.

Esperança de pouca dura, pois o Santuário apressou-se a negar essa hipótese de forma definitiva.

E seguiram-se ameaças de polícia, militares, corpo de intervenção, cães e cavalos. O santuário foi vedado nos dias 12 e 13 com as grades que habitualmente guiam a passagem da Virgem junto dos seus filhos. As celebrações foram uma tristeza. Velas acesas por funcionários e um corpo de segurança privada a deter um casal peregrino que “ousou” chegar até à capelinha. De fora, ficaram os pequeninos, de velas acesas e acompanhando a recitação do terço.

E no dia 13, a venerada imagem da Senhora de Fátima esteve quase a cair ao chão, pelas escadas abaixo.

Toda esta situação é muitíssimo desagradável. O Santuário recebeu “e-mails agressivos e alguns até malcriados”. O odioso de todas estas decisões é empurrado entre governo e alto clero. Ou então é elogiado pelos próprios, como tendo sido a “decisão acertada”.

Com tudo isto e ainda com brigadas da GNR a limitar as entradas em Fátima de 9 a 13 de Maio, Fátima e o Santuário ficaram desertos.

Na tarde de 13 de Maio (após finalizadas as cerimónias) o santuário/capelinha ficaram acessíveis. Mas com a presença de um escassíssimo número de peregrinos.

No meio de tudo isto, de Cristo abandonado e fechado nas Igrejas não se fala. Do coração ferido da Virgem de Fátima tampouco se fala. Fica agora a questão: irá o povo português continuar a (não) reagir após todo este pesadelo?

Não se sabe ainda quando terminará o episódio coronavírus.

Mas quando terminar, como estará Portugal, a nossa Fé, as nossas peregrinações?

Será que, após tanto disparate apostólico, Cristo ainda encontrará Fé em terras lusas?

Maria das Dores Folque

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