A 23 de Janeiro de 1918 foi D. Nuno beatificado pelo Papa Bento XV. Ainda cardeal, Joseph Ratzinger tinha já decidido elevar aos altares do mundo aquele que, segundo terá revelado, “mais gosto lhe deu canonizar”. Em 26 de Abril de 2009, em Roma, era canonizado por Bento XVI com cerimónia pública de proclamação solene. São Nuno saiu mais uma vez vitorioso.

Conta-se que tal facto terá enfurecido a representação de Espanha junto ao Vaticano, que sempre quis e muito fez para ver nos altares os Reis Católicos antes do Santo português. Após séculos de obstáculos pela diplomacia espanhola, podemos dizer que esta foi mais uma arrasadora vitória de D. Nuno sobre Castela.

Quando integrada num movimento patriótico, coube-me durante alguns anos organizar uma homenagem ao então Beato Nuno de Santa Maria pelo 6 de Novembro, sempre iniciada com a celebração da Santa Missa numa igreja da cidade do Porto. Uma vez, o pároco não pôde comparecer e foi substituído por outro sacerdote. Na homilia, referiu que Dom Nuno ingressara no convento para remir-se dos seus pecados de vida militar. Serenamente, a assembleia não se deixou confundir.

De facto, as gerações mais jovens também já terão ouvido dizer o mesmo. Não acreditem. Esta é uma versão recente, fruto da actual cultura incapaz de enxergar a heroicidade militar.

É que D. Nuno foi sempre santo. Desde tenra idade trilhou o caminho da perfeição cristã. Jovem na Corte, manteve-se casto, escolheu o celibato. Por obediência a seu Pai, casou. Tornando-se por casamento Senhor das Terras do Bouro, formou um exército onde se respeitava a ordem e disciplina, assim como os mandamentos da fé cristã. Nessa época, o reino sofria com a política de inconstância do “fraco rei”. Viviam-se por isso tempos difíceis e muitos caíam na miséria. Para valer a essa situação, D. Nuno criou serviços de caridade.

São Nuno vitorioso

Já quando militar, era tal a sua santidade que a nação lhe chamava o “santo condestável”, e em tempo de paz, era o “santo conde”.

As suas batalhas eram vencidas com oração, vigília e castidade de todo o exército. Era a força de homens preparados na graça de Deus, aliada ao génio de um chefe militar quase sobre-humano.

Exímio defensor do reino na crise de 1383/85, tudo venceu em quanto se envolveu. Atoleiros, Aljubarrota, Valverde. Batalhas que defenderam a independência do reino e as populações. Lutas aguerridas, com muita morte e sangue, mas que pouparam as populações na mira do invasor.

Em tempo de paz, D. Nuno era excelente administrador de suas propriedades. Foi marido, pai e avô extremoso.

Sofreu a morte de dois filhos varões. Amou os seus com ternura, como atesta uma pequena e carinhosa carta dirigida a sua netinha D. Isabel, a quem trata por “minha linda”, escrita estando já como donato no Convento do Carmo, com o nome de Nuno de Santa Maria. (Chronica dos carmelitas da antiga e regular observância, Lisboa 1745 — ver reprodução da carta em S. Nuno de Santa Maria, exemplo de virtudes para o nosso tempo, pág. 45, Editorial Missões, de Aires A. Nascimento).

Como é sobejamente conhecido, foi especial devoto da Virgem Santíssima.

Após enviuvar, retirou-se para o convento que ele próprio fundara. Praticara as virtudes cristãs ao longo da vida. Mas não lhe bastava. Faltava-lhe viver a pobreza e a humildade da obediência aos superiores. Despojou-se de bens, títulos e honrarias. Distribuiu-os por familiares, amigos, antigos companheiros de armas e o mosteiro que fundara. Pobre, era agora ele quem mendigava alimento. Fez-se um humilde irmão donato, sem direito a hábito carmelita e obedecendo aos seus superiores, inferiores em idade e condição.

«Grande estratega e vencedor, não lhe faltou fé para pedir ao Céu a vitória, nem a humildade para agradecer». Aires A. Nascimento.

Qualquer função ou missão que lhe foi atribuída desempenhou-a com todo o seu saber e capacidades. Nunca ficou pela metade.

Gostaria de inserir aqui um facto relacionado com São Nuno, ocorrido nos nossos tempos. O meu avô escolheu o Beato Nuno de Santa Maria para padrinho de baptismo da minha mãe. Após dois anos, ficou órfã de pai. Seu padrinho redobrou os seus cuidados com a afilhada. Minha mãe conheceu e casou com um santo. E aos 85 anos, faleceu esta protegida do “santo condestável”, na noite de 6 de Novembro (!).

Não tenhamos dúvida que D. Nuno continua a levar muito a sério qualquer incumbência que lhe seja confiada.

Muito se tem contado e escrito. E haveria aqui muito ainda a referir, contar e louvar! Talvez daqui a um ano, se Deus quiser, estaremos cá para seguir recordando o Gigante da nossa História. Para divulgar e fazer saber aos portugueses das velhas e, sobretudo, das novas gerações as virtudes de tão nobre compatriota.

Que São Nuno de Santa Maria rogue por nós e por Portugal!

Maria das Dores Folque

«Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-Me», Bíblia Sagrada, Mt.19, 21.

«Modelo de príncipes, exemplo de senhores, espelho de anacoretas, assim és tu, Nuno bem-aventurado; foste firme e valoroso em combate, humilde e apiedado na vitória, justo e misericordioso na paz, obediente e devoto no claustro». Oração composta pelo Infante D. Pedro após a morte de D. Nuno e transmitida pelo rei D. Duarte ao seu representante junto da Cúria Romana.

«Que auréola te cerca?», A Mensagem, Fernando Pessoa.

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