O silêncio sobre a morte do combatente João de Bessa, contrasta com a ampla cobertura mediática dispensada a umas dezenas de maltrapilhos africanos que desciam a avenida para homenagear o “turra” Amílcar Cabral. Vergonhas e incongruências que nos ficam mal.

O tenente-coronel do Serviço-Geral Pára-quedista João de Bessa — português modesto e humilde, apenas conhecido dos seus camaradas e amigos — faleceu no dia 13 de Setembro de 2024, em Carcavelos, onde vivia.

Este militar, disciplinado e bem formado, a quem não se conheciam vilanias, nasceu na povoação de Real, Amarante, em 10 de Novembro de 1932, ainda serviu comigo na Academia da Força Aérea. Aqui fica a homenagem.

O João de Bessa integrou o 1º curso de pára-quedismo militar que houve em Portugal, no então Batalhão de Caçadores Pára-quedistas, em 1957. Possuía o brevet nº 207. Passou à reforma em 1996, no posto de tenente-coronel, a que tinha ascendido, em 2 de março de 1982.

O então capitão Bessa ficou para a história por, estando a comandar uma companhia de pára-quedistas (o que era muito raro acontecer com um oficial não oriundo da Academia Militar), do Batalhão de Pára-quedistas nº 12, aquartelado em Bissau, ao efectuar uma operação no sul da então província da Guiné, ter emboscado um forte grupo inimigo, tendo sido capturado um “guerrilheiro” de tez branca, que veio a ser identificado mais tarde, como cubano.

Recuemos a Novembro de 1969(1).

Depois de informações recolhidas que um grupo inimigo, que estava operando rampas de foguetões de 122mm na região de Guilege, ia entrar no nosso território, entre os dias 17 e 18 desse mês, o comando-chefe decidiu empenhar as companhias de pára-quedistas 121 e 122 e lançar a operação “Jove”.

Deste modo saíram de Bissau a 16 e 17 de Novembro, com destino a Aldeia Formosa, as citadas companhias com todo o equipamento necessário para emboscar as forças do PAIGC(2).

Helitransportados para a zona da acção, os diferentes grupos de combate dos “páras” progridem para as áreas de emboscada pré-determinadas.

A mata é densa e as tropas pernoitam no seu seio e continuam a sua progressão no dia seguinte.

Montada a emboscada, logo aparecem dois indivíduos, um branco e um negro, nas imediações das forças da companhia 122, do comando do capitão Bessa. Este, quando entendeu oportuno, deu ordem de fogo ao apontador da metralhadora MG-42, 1º cabo Regageles. O guerrilheiro negro é imediatamente abatido, enquanto o segundo é ferido com gravidade e arrasta-se em fuga. Iniciada a perseguição é capturado. O capitão Bessa impede que seja abatido, é tratado pelo enfermeiro e depois evacuado de helicóptero para o Hospital Militar de Bissau.

O oficial fez bem em não o deixar abater pois veio a ser um valioso “troféu de guerra”, além de ter praticado um acto de humanidade(3).

De facto, veio a verificar-se tratar-se do capitão do exército cubano Pedro Rodriguez Peralta, pertencente ao partido comunista cubano e que tinha combatido ao lado de Fidel de Castro, na Sierra Maestra, aquando da revolução cubana de 1959. Tinha recebido guia de marcha para Conakri, na República da Guiné, a fim de ser instrutor dos guerrilheiros do PAIGC que usavam aquele país e o Senegal para se acoitarem e atacarem o território português da Guiné.

Foi a primeira vez que as Forças Armadas Portuguesas capturaram, feriram ou liquidaram, um elemento de um exército estrangeiro, quer na Guiné como em Angola e Moçambique, o que era a prova provada do envolvimento estranho, nomeadamente de países comunistas – Cuba era na altura um país satélite da URSS —, nas acções militares contra Portugal (e não contra o Estado português).

No que aliás eram acolitados por portugueses (felizmente poucos) indignos desse nome e cuja adjectivação adequada me fere os lábios e a alma.

O capitão Peralta acabou por ser transportado para Lisboa onde foi julgado em Tribunal Militar e condenado a pesada pena (presumo que se algo parecido tivesse ocorrido em Cuba, a pena seria o “paredon”…).

Assim o encontrou o golpe de Estado ocorrido a 25 de Abril de 1974, que logo virou uma sucessão de actos tidos por revolucionários caóticos e, por gritaria da rua desvairada, e pressões de esquerdopatas e comunistas (civis e militares), o pouco distinto capitão Peralta foi libertado e, até, tratado por alguns como “herói”. Fidel de Castro condecorou-o no seu regresso a Cuba (o que está conforme).

Enquanto isso e passado pouco tempo, eram fuzilados de qualquer jeito, na Guiné, pelo PAIGC, muitos militares que tinham servido nas Forças Armadas Portuguesas, as quais tinham, entretanto, abandonado da forma mais indigna possível aquele território português.

Seis vezes secular.

O silêncio sobre a morte deste combatente (o TCor. João de Bessa), como de resto sobre qualquer combatente português, mais ou menos ilustre, foi (e é) sepulcral.

* * * * *

Passados uns dias, a 21 de Setembro, dia crismado (vá-se lá saber porquê) de “Dia Internacional da Paz” — dia instaurado pela ONU, em 1981, onde se devia observar 24 horas de cessar-fogo e não-violência (o que nunca foi observado) — decorreu em Lisboa, avenida da Liberdade abaixo — coitada da avenida da Liberdade, que tão mau uso têm feito do seu nome — uma manifestação (as pessoas passam a vida a manifestar-se, normalmente pelo que não devem), organizada por um obscuro “movimento negro”(4).

Vergonhas e incongruências que nos ficam mal

A ideia principal desta “manif” parece ter sido homenagear um tal Amílcar Cabral, dirigente e fundador do acima citado PAIGC, que este ano completaria 100 anos de vida.

E lembra-se já que tal personagem mestiço, filho de pai cabo-verdiano e mãe guineense, foi assassinado, em 20 de Janeiro de 1970, em Conakri, por elementos do próprio partido, o que nunca foi devidamente esclarecido por este, apesar de tal ter originado uma depuração que liquidou cerca de 200 elementos do mesmo.

A manifestação “quer” associar o nome de Amílcar Cabral às comemorações do 25 de Abril de 1974 e aproveitou a ocasião para lançar diatribes e denúncias contra o racismo e a xenofobia e reivindicar “direitos” de que os manifestantes se julgam credores (curioso notar como o próprio nome “movimento negro” nada terá obviamente a ver com racismo e xenofobia…).

À manifestação associou-se um partido político, pouco português, normalmente defensor de teses, ideias e ideologia absolutamente intragáveis e nefastas.

A manifestação apesar de contar com poucos elementos (sempre disfarçada de “muitos”) teve ampla cobertura mediática, pelas mesmas razões que este escrito e assinado, não terá.

Sejamos claros, sintéticos e objectivos: Amílcar Cabral foi um cidadão português, formado em Lisboa, com uma bolsa de estudo governamental, aboletado na “Casa do Império”, que virou marxista e resolveu repudiar a sua sociedade, levantar armas contra as autoridades do Estado e população, e trair a Nação, tentando a secessão de uma parte do seu território, nomeadamente a Guiné e Cabo Verde, conjuntamente, o que logo se desmoronou — por razões que não vou dilucidar — após o 25 de Abril.

Ponto final.

Que alguém fora do actual Portugal goste e queira homenagear o homem, é livre de o fazer se o deixarem. Que possa ser considerado herói em Cabo Verde ou na Guiné, admito. Agora que andem a homenagear na minha “casa”, um ex-concidadão que virou terrorista da Bandeira Nacional Portuguesa e contra o qual tivemos de lutar durante 10 anos é que ultrapassa todos os limites da decência e do despautério.

Estas manifestações devem ser proibidas e o estranho “movimento negro”, onde também aparenta haver “branquelas”, investigado; o Estado português tem que se dar ao respeito e não se portar como sendo uma “república das bananas”. Finalmente os portugueses que restam devem ter alguma vergonha na cara.

Brandão Ferreira
Tenente-Coronel Piloto Aviador (Ref.)

________________
(1) Dados recolhidos em artigo do coronel Martinho Grão, Revista “Boina Verde”, nº 212, Setembro de 2005, pág. 40.
(2) PAIGC — Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, nessa altura liderado por Amílcar Cabral.
(3) Mais tarde o prisioneiro veio a declarar ter ficado admirado por lhe terem poupado a vida, em entrevista ao jornalista norte-americano Biel Wright, representante em Lisboa da “United Press International”.
(4) Este Dia Internacional da Paz foi “inventado” em contraponto ao “Dia Mundial da Paz”, proposto pelo Papa Paulo VI, em 8/12/1967, que seria, e é, comemorado no dia 1 de janeiro (que é uma espécie de feriado universal), sendo extensivo a todos e não apenas aos católicos, sento objecto de uma mensagem Papal em cada ano, relativo a um tema diferente.

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