Depois do que aconteceu este ano nas celebrações do Dia de Portugal — um dia para Portugal esquecer — só nos resta exigir a Costa e Marcelo que doravante celebrem o 10 de Junho fora. De preferência longe, muito longe.

Só há uma palavra para descrever o que aconteceu nas celebrações do Dia de Portugal deste ano: vergonha.

Vergonha pelo Presidente da República não ter coragem nem frontalidade para fazer mais que uma intervenção críptica destinada a permitir todas as interpretações e as contrárias.

Vergonha pelo Presidente da República ter andado por África a repetir aquela lengalenga hiperbólica de Portugal como o melhor país do mundo e dos portugueses como os melhores, etc., etc…

Vergonha pelo Presidente não ser capaz de avaliar a sua responsabilidade na degradação do nosso quotidiano.

Vergonha pelo primeiro-ministro e sua mulher terem acabado numa zaragata com uns manifestantes. (Que o cidadão António Costa e a sua esposa desatem aos gritos quando se sentem insultados é um direito que lhes assiste, mas António Costa é primeiro-ministro e tem de respeitar o cargo que ocupa. Logo, se contra os próprios conselhos dos seus seguranças resolve ir ele mesmo e levar a sua mulher pelo meio duma multidão de provocadores, tem de manter-se sereno, quer ele, quer a sua esposa, pois a tal obriga a institucionalidade do cargo que ocupa).

Vergonha pelos cartazes exibidos pelos manifestantes. Ao contrário de António Costa não entrevejo ali racismo algum mas sim pura má educação e boçalidade, o que não diminui o seu carácter ofensivo.

Vergonha por ter de se invocar o racismo para se condenar a má educação.

Um dia para Portugal esquecer

Vergonha por boa parte da esquerda nunca ter criticado os coelhos esfolados presentes nas manifestações quando o primeiro ministro se chamava Passos Coelho e até se achava natural que uns alegados activistas aparecessem com as suas palavras de ordem no areal onde Passos fazia férias.

Vergonha pelo jogo táctico do Primeiro-ministro que entendeu que as celebrações do Dia de Portugal eram um bom momento para, mais uma vez, mostrar ao PR que é ele, António Costa, quem manda e, como tal, ter levado para estas celebrações João Galamba.

Vergonha por João Galamba continuar ministro.

Vergonha por João Galamba ter sido ministro.

Vergonha por João Galamba não ter vergonha.

Quando estou a acabar este texto constato que, entretanto, João Galamba declarou “Sou um ministro com muitas coisas para fazer e coisas que continuarei a fazer a bem do país”. António Costa escreveu: foi “muito bom sentir o carinho da população de Peso da Régua”. E Marcelo detalhou que “não há ramos mortos nas Forças Armadas, só vivos” depois de horas antes ter declarado que “É preciso cortarmos os ramos mortos, que atingem a árvore toda”, donde, a começar pelo PR, estarmos agora todos a brincar aos podadores.

Sim, a nossa maior vergonha é que a vergonha de hoje nada será ao pé da vergonha de amanhã.

Helena Matos
In Observador, 11JUN2023

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