Austeridade, do latim, “austeritas”, qualidade do que é austero (rigor, severo); o que, aplicado à Economia, significa “rigor teórico no controlo dos gastos”. Uma política de austeridade é utilizada quando o nível do “deficit” é considerado insustentável, e é implementada através do corte de despesas.
Imbecil, do latim, “imbecillis”, fraco, sem carácter, humilde; quem demonstra fraca inteligência ou discernimento; idiota, parvo, tolo; o que manifesta imbecilidade. Em Psicopatologia representa um atraso mental equivalente a uma idade mental entre os três e os sete anos e um QI entre os 30 e os 50.
Agora que estamos situados, vamos imaginar uma família que tenha um rendimento mensal de 9000 euros. Se devido a uma doença, um acidente, um mau investimento, ou qualquer outra coisa que corra mal (em que a vida é fértil), perder um terço do seu rendimento, no mês seguinte tem apenas 6000 euros para gastar.
Daqui decorre uma coisa simples e que é esta: a família não pode viver do mesmo modo como vivia no mês anterior (isto é, manter o nível de vida). Vai ter de se adaptar. Vai ter de se tornar mais austera…
Tal só não acontecerá caso disponha de reservas acumuladas (poupanças) ou se tenha precavido com planos de contingência (seguros, aplicações financeiras, etc…).
Mesmo alguns muito ricos, que vivem de especulação bolsista (ou bolseira?) podem cair de um dia para o outro…
Ora, a esmagadora maioria das famílias e empresas portuguesas, além de terem baixos rendimentos, guardarem pouquíssimas reservas (poupanças), ou estarem descapitalizadas, estão afogadas em dívidas, sem fim à vista.
O Estado está exactamente na mesma posição. Arrasta-se em falência técnica permanente; vive de habilidades (a que chamam “engenharia financeira”); de alienação de património (às vezes para resolver problemas de tesouraria), aliena a soberania a troco de “apoios” investimentos e “solidariedades” várias, e prostitui a nacionalidade. E tudo isto sacando ao cidadão uma quantia que já ultrapassa os 40% da sua riqueza, em carga fiscal (impostos directos e indirectos).
A banca então, nem se fala: há décadas que é um desastre inominável (mas nunca paga pelos erros…) e está, também, descapitalizada; cheia de crédito mal parado; metendo-se amiúde em negócios especulativos ruinosos e “empréstimos duvidosos a amigos”, etc… E foi esticando a corda tão inconscientemente (o termo correcto é outro) que estou em crer que se 10% dos depositantes fossem levantar metade do que lá têm, a maioria dos bancos colapsava em horas. Mas nunca se regateia dividendos aos administradores; eles nem admitem discussões sobre a sua ganância…
Em síntese, a banca em vez de investir dinheiro na economia, tem sobrevivido com o dinheiro que suga aos depositantes e com o dinheiro que o Estado (essa figura anónima de costas largas) lá mete, sacado dos impostos dos contribuintes. Desde os anos 80, calcula-se que o “saque” já vá em cerca de 50 mil milhões de euros, ninguém sabe ao certo. O que se sabe é que foi sempre a piorar e cada vez com menos pudor. Assaz educativo.
O que tem acontecido debaixo do olhar vigilante de uma corte de supervisores, principescamente paga, cuja característica maior tem sido a de nunca dar conta, ter presente nem se lembrar de nada! É obra.
Tudo isto vai passando sempre embrulhado em papel celofane com perfume rasca e mentiras q.b.. Perdão, “inverdades” pois é feio mentir!
Estávamos nós em este preparo e doce remanso, que a ampla liberdade para mentir não chegava já para esconder, quando nos cai em cima esta história mal contada do “Covid-19”, o qual, por obra e graça do confinamento profilático, nos meteu em casa, fazendo a vida social e económica cair a pique.
As estimativas projectadas a esmo vão variando, mas podemos fixar isto: as consequências económicas, financeiras e sociais vão ser muito, muito graves. E ainda só passaram três meses.
Preparam-se agora as “forças vivas” do país para encetar a volta à “normalidade” e o retomar da vida — tanto quanto possível — a que estávamos habituados — e bem seria útil aproveitarmos para reverter as más práticas, que são muitas.
Eis senão quando, aparecem uns cómicos que dizem que tudo se tem que resolver sem a tal austeridade…
Eu sei que a maioria dos políticos de que temos sido servidos erraram a “profissão”, pois deviam ter ido para ilusionistas, mas irrita-me que queiram fazer de nós todos imbecis, ou reduzirem-nos à imbecilidade!
A economia não é uma ciência exacta e possui muitas variáveis. A única coisa que é exacta é a soma algébrica das operações, que é zero. Mas, para ser zero, há um fluxo de meios — o mais conhecido dos quais se chama dinheiro — que se movem de um lado para outros. E não é fácil saírem todos a ganhar.
Muitos factores contribuem para isso, mas quando se actua num, tal vai replicar-se noutros. Sempre. E tudo tem consequências. Por isso, a economia não é apenas ciência: também tem algo de “arte”. De que resulta ser difícil encontrar dois economistas a defender a mesma coisa…
Como a estratégia, que deriva de uma política, a qual tem origem numa ideia. Ora, quanto melhores forem a ideia, a política e a estratégia, melhor será a economia.
Acontece, porém, que há muito que não existe uma Ideia para Portugal; a política é medíocre e escreve-se com minúscula, e a estratégia desprezada. Não é de estranhar que a economia e as finanças (e tudo o resto) se ressintam disso…
Ou seja a economia deve derivar de uma política e ser instrumento de uma estratégia e as finanças devem servir a economia e ambas terem preocupações sociais. Não devem apenas servir para engordar banqueiros, promover negociatas e corrupções ou ser objecto de influência de “lóbis” político/empresariais.
Por este encadeamento simples de entender (ou falta dele), se pode perceber o descalabro das últimas décadas, do qual só sairemos com muitos sacrifícios e mudanças radicais de comportamento e organização política.
Ora, não se tem encontrado um filho d’algo interessado e na disposição de o fazer. E também jamais haverá, enquanto não se vislumbrar nos altos cargos do poder pessoas dispostas a dar o exemplo. Vai-se fugindo para a frente…
E, deste modo, a “liberdade” mais utilizada na sociedade é a do livre arbítrio de mentir. Mentir muito e impunemente (a que alguns se atrevem a chamar de “certezas ideológicas”).
Por isso, a “tanga” da austeridade, ou falta dela, vai continuar com as “nuances” necessárias a prepararem a opinião pública e a mudarem de agulha quando necessário. E tal vai acontecer quando finalmente, a nível da UE, se tiver acordado (ou não) no pacote de ajudas para fazer face à débacle. E, independentemente daquelas que surgirem, haverá aí sempre campo de manobra a ser usado como desculpa…
Não há, todavia, alternativa para Portugal, que não seja o tal rigor prático no controlo dos gastos!
A preocupação deveria ser então, procurar distribuir os custos e danos que tal vai acarretar de um modo equitativo por toda a Nação, com os órgãos do Estado a darem o exemplo…
Em conclusão, já vimos que não temos reservas de nada (de divisas — o que resta do ouro não se pode tocar, pois está “hipotecado” ao BCE — de cereais; de outros alimentos, a não ser algum vinho e azeite; de metais e outras matérias-primas; até de água, etc…). Dispomos apenas de três meses de reservas de crude, mas a maioria está guardada na Alemanha… E alguma capacidade recente para guardar gás natural por via das cavernas construídas na zona de Pombal, cujo montante desconheço.
O Estado está sempre em fio de bancarrota, e os bancos não têm dinheiro para emprestar.
A economia (partindo do princípio que a balança comercial seria positiva) não tem capacidade de nos retirar só por si do fundo do poço onde nos encontramos.
Ainda se consegue financiamento externo, mas tal já não será ao preço baixo a que nos habituámos ultimamente, e deitar mão dessa ferramenta é absolutamente desaconselhável, pelo gravíssimo endividamento em que já estamos e pelo estado de escravatura a que nos sujeitamos; e vender património é a mesma coisa por outra via… Mas parece que ainda se aventa a hipótese de despejar na TAP centenas de milhões de euros, depois de se andar a fazer asneiras grossas com ela desde… 1974!
De facto, só resta o dinheiro da UE, mas mesmo esse é uma ilusão de óptica. Ninguém dá nada a ninguém…
Mas de onde sairá o dinheiro?
Do orçamento comunitário? Mas esse pertence a todos os países.
Serão os países ricos que disponham de “superavit” a emprestar aos mais necessitados? Mas isso implica juros; seria a fundo perdido? Mas como justificar tal medida? As formigas vão dar dinheiro sempre que as cigarras precisem?
Portanto, o dinheiro só pode vir do BCE, mas o bolo lá guardado também é de todos (os que aderiram à moeda única — e há que resolver também os problemas dos outros), além de que tem accionistas privados, algo que é por norma escamoteado.
Há sempre a solução de produzir moeda — a maioria em circulação é já escritural há muito tempo (ou seja é algo fictícia, pois não tem nenhum “bem” a sustentá-la) e é baseada numa coisa a que chamam “confiança” — que ninguém sabe definir muito bem —, mas tal iria depreciar o valor da moeda, incorrer em inflação e afectar a concorrência das exportações e o preço das importações.
E, mais uma vez neste âmbito, para o valor final ser zero há uns que perdem e outros que ganham.
Como qualquer agricultor sabe, por mais humilde que seja, não se pode ter sol na eira e chuva no nabal ao mesmo tempo, que é o que os espertos da política — querendo fazer dos outros cidadãos, imbecis (não é por acaso que se tem assistido à imbecilização da sociedade) — andam a tentar fazer há muito. Democraticamente, é claro.
Não era pois necessário o governo ter-se dado ao trabalho de declarar o “estado de calamidade” no país. Há mais de quatro décadas que ele existe.
Brandão Ferreira
Tenente-Coronel Piloto Aviador (Ref.)