Como é seu costume quando está rodeado de jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou frente às câmaras: “Só quando uma mulher incompetente chegar ao topo haverá verdadeira igualdade nas Forças Armadas”. O “nosso” presidente estará bem?

Segundo alguns órgãos de informação social — que relataram profusamente o “dislate”, dado que existe sempre um pelotão de jornalistas colados ao senhor — Marcelo ainda foi mais longe: “só haverá igualdade entre homens e mulheres, quando chegar aos mais altos postos uma mulher tão incompetente, como chega em vários casos, em inúmeros casos, aos mais altos postos, um homem” (o sublinhado é nosso).

A “diatribe” ocorreu durante o I Fórum de Recrutamento organizado pela Força Aérea, no Teatro Thalia, em Lisboa, no passado dia 28 de Junho, sobre o tema dos desafios do recrutamento militar, falando especificamente sobre a integração das mulheres nas Forças Armadas.

Analisando as afirmações, fica-se com a ideia de que o autor da frase era ele próprio (“eu costumava dizer o seguinte…”), mas melhor parece uma corruptela de uma afirmação algo irónica de uma mulher com ares de feminista (seja lá o que isso for), de seu nome Françoise Giroud, que escreveu num jornal francês, há umas décadas atrás, o seguinte: “a mulher será verdadeiramente igual ao homem, no dia em que para um posto importante, seja nomeada uma mulher incompetente”.

Curiosamente o mesmo se pode ler num artigo do major-general Carlos Chaves, publicado no jornal “Sol” de 8 de Junho de 2019, que escreveu, e cito: “Li recentemente uma declaração de uma notável feminista sentenciando que só haverá verdadeira igualdade de género quando aparecerem mulheres incompetentes na administração de empresas. No caso do HFAR é por demais evidente que já lá chegámos”.

Tal arrazoada fazia parte de um malévolo e descabelado ataque à então directora do HFAR (Hospital das Forças Armadas) e por acaso a primeira mulher em Portugal a atingir o posto de oficial general.

As coisas que se passam e vá-se lá saber com que intenções…

É pena que o professor Marcelo Rebelo de Sousa, não tenha lido esta prosa (ou então não fez fé nela), mesmo perdendo uma boa oportunidade de estar calado o que, como é notório, não lhe está na massa do sangue.

Ora o “Comandante Supremo” — que não comanda nada, é apenas um título honorífico — disse coisas incompreensíveis, deixando os que percebem alguma coisa do que se passa, boquiabertos e nem me atrevo a imaginar o que o cidadão comum possa deduzir de semelhante jogo de palavras. Será que quis ter graça? Saiu-lhe mal; já não aguenta cinco discursos por dia? Deve então refrear-se; quis enviar alguma indirecta? Ninguém atingiu, mas fica a aleivosia; está incontinente de verborreia? Meta uma rolha, que ainda não falta cortiça em Portugal.

O “nosso” presidente estará bem?

Aquela tirada de haver muitos incompetentes que chegam aos mais altos postos — como se estava a falar de militares, temos que deduzir que se está a referir às Forças Armadas — é de cabo de esquadra.

Como é que um verdadeiro paisano que nem o serviço militar cumpriu, se permite avaliar a competência de altos cargos militares, nem sequer apontando um único caso e explicando porquê? E mesmo assim devo deduzir que eventuais casos observados (na sua opinião, é claro) o sejam de há mais de seis anos, já que por imperativo de funções ele, presidente, tem de apor a sua assinatura em muitos casos de promoção, ou escolha para desempenho de funções, de muitos dos oficiais generais no activo. E já nem falo nas competências que tem na designação das chefias militares, o que ficou bem evidenciado no recente (e lamentável) caso da substituição do chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Mendes Calado.

Mas Marcelo Rebelo de Sousa vai mais longe e faz considerações sobre a participação de mulheres em “unidades de elite” — em que afirma ser muito difícil qualquer mulher chegar, nessas tropas, a oficial superior! E ainda acrescenta frases confusas: “dir-se-á porque são características tais, que são concebidas só para homens. Eu nunca vi a comparação em termos externos, mas desconfio que deve haver nesse tipo de unidades, ou unidades congéneres, mulheres, mais do que há em Portugal”.

Ó senhor Comandante Supremo, nem sequer se trata de chegar a oficial superior, trata-se de ser admitida! E se, porventura, nalguns países “prá-frentex” do mundo, haja mulheres em “unidades congéneres” tal é conseguido demagogicamente à custa de se baixar a fasquia!

Por fim remata com outra frase infeliz e que soa mal: “é um bom sinal de mudança de mentalidade este fórum da Força Aérea, nos seus 70 anos, quer dizer que não precisou de esperar 100 ou 120 ou 140, para fazer esta reflexão”.

Sabe, a Força Aérea e os outros Ramos, há muito que se habituaram a andar à frente dos acontecimentos e a inovar, até por uma questão de sobrevivência. E no caso português têm feito das tripas coração para fazer sempre o mesmo (ou até mais) com menos, até chegarem à ossatura descarnada em que agora estão. Tudo isto enquanto o resto do país folgava à boa maneira da cigarra e os políticos se entretinham a fazer o que não devem para ganhar votos e assim conquistarem ou se manterem, na manjedoura do poder. Não parece quererem saber do país para nada, muito menos da Instituição Militar. Infelizmente a maioria das chefias militares não têm tido a coragem e a espinha dorsal para se darem ao respeito e dizerem-lhes isto (e muito mais) na cara.

Aliás, no âmbito em que o Presidente da República discorria, a Força Aérea tinha andado à frente dos outros Ramos na admissão de mulheres em larga escala — partindo do princípio (errado) que tal foi uma boa ideia — e posso dizer-lhe que a coisa até deixou muito a desejar. Eu assisti ao parto…

Mas a senhora ministra da Defesa parece ter a solução para tudo já que, ao discursar no dia da Força Aérea, afirmou a dado passo a seguinte pérola: “que com mais mulheres em cargos de decisão nas Forças Armadas, seja mais difícil haver pessoas incompetentes nesses lugares”. Gostaram?

O Comandante Supremo não podia esperar melhor resposta. Está pois aberto o concurso para o político que diz os maiores disparates diários…

Aliás, esta questão das mulheres, da igualdade de género e similares, já fede e não se suporta.

E, já agora, gostaria de saber como é que querem que haja maior “paridade” no recrutamento se este é voluntário e sujeito a provas? Será que vão proibir os homens de se candidatarem? Irão pagar mais às mulheres que se voluntariarem? Arredonda-se-lhes os resultados por cima? E não estão preocupados em que nas especialidades ligadas à saúde já haja (e se não há, vai a caminho) mais mulheres que homens? E porque bulas, tem de haver paridade?

Meu Deus, tanta cretinice, a que se deve agora juntar a ideia de recrutar imigrantes para a tropa!

E melhor seria que em vez de ser a senhora ministra a presidir à cerimónia do aniversário da Forças Armadas, tivesse sido ele, Marcelo Rebelo de Sousa, a fazê-lo, em vez de ir ao Brasil intrometer-se na política interna brasileira; praticar actos hostis para com o seu homólogo das Terras de Vera Cruz, criando incidentes políticos escusados (e em que não parece ter pingo de razão) e dando preferência a “actividades culturais” de cunho marxista em detrimento da comemoração desse feito ímpar da Aeronáutica Nacional (provavelmente o maior feito individual de todo o século XX português), que foi a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, efectuada em 1922, por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, de que se está a comemorar o centenário e que seria o principal motivo desta 6ª viagem oficial ao Brasil (já vai em seis!).

Não teria assim que esperar mais 70 anos para o fazer…

Uma vergonha.

Brandão Ferreira
Tenente-Coronel Piloto Aviador (Ref.)

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